11 março, 2019

POR QUE O ‘MORRO DOS CONVENTOS’ NÃO ATRAI TURISMO DE QUALIDADE COM QUANTIDADE?!




POR QUE O ‘MORRO DOS CONVENTOS’ NÃO ATRAI TURISMO DE QUALIDADE COM QUANTIDADE?!


                   Um questionamento oportuno e necessário, porém de complicada e difícil conclusão, principalmente quando se recorre ao imediatismo das respostas insensatas e inadequadas, mania muito comum dos brasileiros de responder apenas por responder, sem conhecimento de causa, apenas no achismo.
                   Os fatores causadores da ausência do turismo devem ser diversos, mas certamente que alguns são mais prioritários, tanto para a administração municipal, como também para a iniciativa privada e a população que formam a sociedade civil. Esta questão não se resolve de um dia para o outro, isto leva tempo, muito tempo. Basta mirar-se em outros balneários ou cidades, que de forma planejada tem uma convivência equilibrada e saudável com as suas potencialidades naturais com apelo ecoturístico.
                   O que me intriga é todo o encanto paisagístico da orla marítima e fluvial do balneário do Morro dos Conventos, Morro Agudo e Ilhas, junto com a foz/barra do Rio Araranguá, não serem suficientes pra atrair turismo em quantidade e qualidade. A indagação aumenta considerando ser um dos lugares mais lindos do sul de Santa Catarina e do sul do Brasil, concorrendo em belezas naturais com Torres/RS e as várias praias entre Laguna e Florianópolis. 
                   Não estou aqui defendendo a invasão de turistas, tendo como consequência os “efeitos colaterais” da especulação imobiliária, dos congestionamentos de veículos, da intensa poluição sonora e outros impactos ambientais nas vidas dos moradores, como os que têm ocorrido em encontros de som automotivos no Yate Clube, anteriormente realizados junto com festas raves entre o Morro e a barra. Uma degradação social que além de causar perturbação e incômodo aos moradores, promove uma péssima imagem aos visitantes como se fosse uma terra sem lei.
                   Falo de infraestruturas básicas de obrigação da prefeitura manter ou construir,  como por exemplo, melhorar as estradas e ruas que dão acesso aos pontos turísticos, restaurar calçadas, na descida entre as rochas não existe calçada, instalar passarelas de madeira sobre áreas de relevância ecológica, colocar mais lixeiras acompanhadas de placas de educação ambiental e informativas, melhorar a iluminação pública, implantar bancos nos pontos de mais visitação, como no Farol e rampa de voo livre, delimitar na praia quadras de esportes de modo a disciplinar o uso entre banhistas e esportistas.      
                   Se a legislação permite a parceria público privada, porque não ter empreendimentos voltados para o turismo como, por exemplo, um escultural mirante com estrutura adequada para atender a visitação pública no espaço do Farol? Em forma de ‘comodato’ poderia funcionar uma lanchonete em conjunto com um posto de informações, com as devidas instalações sanitárias asseadas e bem cuidadas.
                   Naturalmente que se faz necessário as estruturas estarem integradas com os aspectos paisagísticos, como forma de não causar um desequilíbrio estético da obra com o contexto do local, a exemplo do impacto causado pela recente construção de um galpão nas margens da duna primária, além do bar que estruturalmente não se adapta a modernidade arquitetônica, a exemplo de outras praias.                   
                   Como cidadão, considero-me preservacionista e tenho o hobby pela captação de imagens. Estas atividades envolvem tempo, disposição e muita dedicação. Para obter resultados proativos, precisamos conhecer os espaços formados pelos ecossistemas e biomas que caracterizam a região envolvida. Posso dizer que me preocupa o desconhecimento dos munícipes para com as potencialidades eco-turísticas e ecológicas, tanto que tentei, enquanto estava na FAMA, elaborar um relatório das potencialidades e deficiências em conjunto com um mapa, mas infelizmente não recebi apoio.   
                   Não tenho nenhuma formação em turismo ou ecoturismo, no entanto posso afirmar como cidadão preocupado com a terra em que vivo, mesmo que empiricamente, percebo o que é ecologicamente relevante e o que possui beleza natural e paisagística. Tanto que, mesmo amadoristicamente, possuo um considerável acervo fotográfico e de imagens de vídeo desde 1985 de Araranguá e região sul e do qual ainda continuo permanentemente registrando imagens!
                   Nestas idas e vindas observamos também ausência de infraestruturas básicas voltadas ao ecoturismo, não apenas um mirante seguro e confortável no espaço do Farol, por exemplo, mas campanhas de acolhimento aos visitantes, desde placas informativas até o aperfeiçoamento de profissionais das diversas áreas relacionadas com turismo, como culinária, artesanato, hospedagem, roteiros e guias de integração com outras potencialidades da região sul de Santa Catarina.
                   Com estudos já elaborados para criação das Unidades de Conservação (UC) abrangendo toda a orla, com destaque para o Monumento Natural, que inclui as milenares falésias, as dunas eólicas, as áreas de restinga e os remanescentes da Mata Atlântica,  pode-se considerar que o passo inicial já foi dado. Várias ações e obras de pequeno porte foram discutidas e sugeridas à Administração Municipal, como forma de dar segurança e conforto aos veranistas, bem como servir de incentivo à iniciativa privada que muito pouco investe em setores relacionados ao ecoturismo. 
                   Existem muitas ações que a administração municipal tem como realizar sem burocracia, não digo a construção de instalações sanitárias no espaço do Farol de forma enjambrada e sem estar integrada a alguma infraestrutura condizente com a plasticidade arquitetônica e paisagística do local, que é um verdadeiro Santuário Ecológico. Falo de passarelas de madeira com acessos facilitados para pedestres aos locais de relevância ecológica e de campanhas de divulgação das belezas naturais baseadas nos estudos e projetos, da mesma forma como existem pequenas obras que facilitam a mobilidade e que proporcionam uma boa impressão aos visitantes, turistas e veranistas da Orla.
                   Se existe uma infraestrutura adequada que proporciona dinâmica saudável, certamente impressionará investidores privados em construir pousadas, hotéis, restaurantes, bares e similares no Morrão e região de entorno. Vale lembrar também que Araranguá está se tornando uma Cidade Universitária com alunos e professores oriundos de vários estados, daí a importância de cuidarmos dos nossos cartões postais, mostrando capricho com nosso patrimônio natural!
                   Junto aos mencionados avanços existem levantamentos e audiências públicas do Projeto Orla, que ao final mesclaram-se com as diretrizes do Plano Diretor. Enfatizo que estes avanços são facilitadores legais, pois apontaram normas, princípios e diretrizes disciplinando e ordenando o adequado uso e ocupação do solo de toda a Orla.
                   No final de 2016 foi assinado o decreto municipal de criação da UC do Morro dos Conventos, como proposta para o ‘Monumento Natural’, o primeiro do Estado de SC. Assim sendo, o Município de Araranguá já têm dados e informações para definir prioridades e legitimamente buscar recursos do Estado e da União específicos para estas finalidades!   
                   Falta empenho de todos, iniciando pela prefeitura e órgãos oficiais, setores da iniciativa privada e a atuação ativa da população ou dos segmentos organizados da sociedade civil araranguaense. É a minha opinião e contribuição, tentando com argumentos e justificativas, provocar ou propor um pacto pelo desenvolvimento sustentável para Araranguá e Região Sul de SC!!!
                                  
Tadêu Santos
Sócios da Natureza