17 maio, 2017

SOCIOAMBIENTALISMO: E SE OS ESTADOS UNIDOS ABANDONAREM O ACORDO DE PAR...

SOCIOAMBIENTALISMO: E SE OS ESTADOS UNIDOS ABANDONAREM O ACORDO DE PAR...: OBS. Oportuno artigo do cientista pesquisador Carlos Nobre do INPE.  Que a comparação de um erro cometido por um determinado presiden...

E SE OS ESTADOS UNIDOS ABANDONAREM O ACORDO DE PARIS?


OBS. Oportuno artigo do cientista pesquisador Carlos Nobre do INPE. 

Que a comparação de um erro cometido por um determinado presidente, sirva de alerta aos defensores da poluente atividade carbonífera do sul de SC, que explora irresponsavelmente o ''carvão mineral'', com uma ganância infecciosa incontrolável, ou seja, da forma mais suja possível contaminando os cursos d’água de três bacias hidrográficas...!!!


Um crime ambiental imperdoável.


Um candidato à presidência de um país nega, durante campanha eleitoral, consenso científico amplamente estabelecido em décadas de pesquisas sérias sobre fatos de grande impacto global. Após ser eleito, mantém posição ambígua e nomeia negacionistas como altos dirigentes de seu governo. Esses dão visibilidade a uma minoria de “cientistas” negacionistas e suspendem – ou atrasam – a implementação de políticas públicas de mitigação.
A descrição caberia nas palavras, ações e intenções do atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, mas refere-se, na verdade, ao que aconteceu entre 1999 e 2008 na África do Sul, durante a presidência de Thabo Mbeki. O dirigente sul-africano negou obstinadamente que o vírus HIV fosse a causa da AIDS e, com isso, atrasou em uma década o uso de antirretrovirais no sistema público de saúde do país.
Alguém poderia atribuir tamanho obscurantismo científico a um baixo grau de desenvolvimento de um país, com diminuta capacidade de apropriação da melhor ciência para benefício da população. Ou poderia dizer que tal postura seria típica de regimes totalitários, em que a ciência deve conformar-se à ideologia. Esse teria sido o caso, por exemplo, de Trofim Lysenko, presidente da Academia de Ciências Agrícolas da União Soviética, negando a genética mendeliana e atrasando o avanço da agricultura local entre 1920 e 1964.
Entretanto, um exemplo de obscurantismo científico no que toca à política e às mudanças climáticas acontece hoje nos Estados Unidos, país que é a grande potência científica mundial, cuja comunidade de pesquisadores é a que mais contribui para o avanço do conhecimento sobre o aquecimento global antropogênico e as mudanças do clima no planeta.
Contraponha o cenário atual ao legado do ex-presidente americano Barack Obama. Em 2015, na construção de consensos meses antes da Conferência do Clima da ONU, em Paris, os Estados Unidos firmaram vários acordos bilaterais. Um deles com o Brasil. Em junho daquele ano, os presidentes dos dois países assinaram acordo de cooperação para reduzir as emissões de gases do efeito estufa. O documento estabelece, por exemplo, as metas de 33% de energias renováveis na matriz energética brasileira e de 20% de renováveis na matriz elétrica – além da contribuição da hidroeletricidade em ambas metas – até 2030. O acordo prevê também parcerias para tornar a agricultura de ambos os países mais produtiva e com menos emissões.
Se a administração Trump der as costas ao histórico Acordo de Paris, de 2015, as consequências diplomáticas serão imensas e negativas para os Estados Unidos em todas as dimensões – e numa escala muito maior do que foram as repercussões diplomáticas desfavoráveis quando George W. Bush retirou o país do Protocolo de Kyoto, em 2001, como admitido pelo próprio ex-secretário de Estado, Collin Powell. O ex-presidente chegou a dizer meses depois do ocorrido que um dos motivos para ter rejeitado Kyoto era que o protocolo prejudicava a economia americana.
Dezesseis anos mais tarde, Donald Trump volta a usar um discurso semelhante como justificativa. Mas o estilo imprevisível do atual presidente americano não permite antever se sua administração chegará ao extremo de retirar os Estados Unidos do Acordo de Paris. Inegável é que, desde que assumiu a Casa Branca, o republicano escolheu negacionistas do aquecimento global para desempenhar altas funções, um claro sinal de retrocesso no ritmo de implementação das medidas de redução de emissões necessárias para atingir as metas preconizadas em Paris, de manter o aumento da temperatura global abaixo de 2°C.
O lado otimista da história é que o movimento mundial de desinvestimento em termoelétricas a carvão pode ser mesmo um caminho sem volta – e, então, não caberiam retrocessos. Além disso, está suficientemente demonstrado por fatos econômicos que as energias renováveis têm potencial para gerar milhões de empregos nos Estados Unidos e sua adoção em massa, longe de impedir o crescimento do país, impulsionará o desenvolvimento da gigantesca economia americana. Centenas de empresas e investidores americanos chegaram a pedir durante a campanha eleitoral que a Casa Branca não abandonasse o acordo climático, afirmando que o fracasso dos Estados Unidos em construir uma economia de baixo carbono ameaçaria a prosperidade nacional.
Mas o risco de os Estados Unidos deixarem o Acordo de Paris existe. Se isso acontecer – ou se o país colocar o pé no freio de sua implementação –, outros países já se preparam para ocupar o vácuo, principalmente China e Alemanha, projetando-se como líderes mundiais em tecnologias limpas.
Ainda que a cooperação científica e tecnológica com os Estados Unidos na questão climática, energética e agrícola seja de interesse estratégico para o Brasil, teremos que seguir adiante o curso do protagonismo que construímos em ações concretas de mitigação das mudanças climáticas. Não nos faltam desafios nessa área, como o de reduzir urgentemente o desmatamento na Amazônia e no Cerrado, e aumentar em muito a presença das novas energias renováveis em nossa matriz energética.
O obscurantismo do presidente Mbeki custou a vida de mais de 330 mil sul-africanos, que não tiveram acesso aos antirretrovirais capazes de lhes prolongar a vida. A irresponsável cegueira do presidente Trump na questão climática poderá ter um impacto infinitamente maior e por muitas décadas ou séculos para o planeta Terra e todas as espécies vivas, inclusive o Homo sapiens, se ultrapassarmos algum limite planetário sem volta.
* Carlos Nobre é climatologista, membro da Academia Brasileira de Ciências, membro-estrangeiro da Academia de Ciências dos Estados Unidos e senior fellow do WRI Brasil

Colaboração de Suzana Lakatos, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 03/04/2017
"E se os Estados Unidos abandonarem o Acordo de Paris? artigo de Carlos Nobre," in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 3/04/2017, https://www.ecodebate.com.br/2017/04/03/e-se-os-estados-unidos-abandonarem-o-acordo-de-paris-artigo-de-carlos-nobre/.

[CC BY-NC-SA 3.0][ O conteúdo da EcoDebate pode ser copiado, reproduzido e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor, à EcoDebate e, se for o caso, à fonte primária da informação ]
Inclusão na lista de distribuição do Boletim Diário da revista eletrônica EcoDebate, ISSN 2446-9394,

02 maio, 2017

DOCUMENTO ENTREGUE AO PREFEITO DE ARARANGUÁ MARIANO MAZZUCO



Araranguá – SC, 27/04/2017.


PREZADO SENHOR MARIANO MAZZUCO NETO
PREFEITO DE ARARANGUÁ – SC

Como representante dos ambientalistas ‘Sócios da Natureza’, entidade sem fins lucrativos e de reconhecida atuação socioambiental nas últimas décadas em Araranguá, venho através deste documento colocar a vossa senhoria algumas questões de relevância relacionados a temáticas ecológicas para a sua avaliação e análise junto a sua equipe de trabalho na administração municipal de Araranguá.
Destacamos as abordagens relacionadas ao Conselho Ambiental do Município de Araranguá COAMA, o parlamento verde deste município como solicitante deste encontro enquanto presidente em final de mandato, que será considerado formalmente com uma ‘reunião extraordinária’ em um local especial com a presença do mandatário do Poder Executivo Municipal. Os temas a serem abordados constam no documento protocolado pelo Secretário Executivo Paulo Baran, com a devida aprovação dos conselheiros, do qual nós destacamos o conflito pelo inadequado uso e ocupação do Morro Azul, conforme foto em anexo.
Como segundo tema, sem ser por ordem prioritária, enfatizamos que temos muito interesse, como é de vosso conhecimento, na continuidade do decreto de criação das Unidades de Conservação (UC), historicamente assinados pelo ex-prefeito Sandro Maciel no final de 2016.
Reconhecemos que o Projeto Orla viabilizou a criação das UCs e contribuiu com princípios e diretrizes ao Plano Diretor, no entanto, queremos aqui deixar claro de forma cartorial que não apenas a ideia, mas os mapas utilizados foram baseados nos estudos elaborados pela consultoria Socioambiental e patrocinados pela AMESC, que na ocasião mantinha o FDESC, do qual a ONGSN era a coordenadora do meio ambiente e propositora das UCs da região sul. A proposta das UCs tinha o objetivo de conseguir recursos financeiros das medidas compensatórias da obra de duplicação da BR-101 para os ecossistemas impactados no trecho Araranguá / Passo de Torres, que não obtivemos apenas por questão de prazo.      
     Na última viagem a Brasília no dia 15/03/17 para participar da 124 Plenária do CONAMA, para debater/lutar pela aprovação da nossa proposta de MOÇÃO DE APOIO À RECICLAGEM, cópia em anexo, tivemos a oportunidade de conversar pausadamente com o deputado Esperidião Amin, desde lembranças passadas sobre Praia Grande, a polêmica sobre acesso ao aeroporto Hercílio Luz, o movimento pelo contorno da 101 em Araranguá, mas o que mais o fascinou foi a criação das Unidades de Conservação (UC) do Morro dos Conventos, como o primeiro ‘’Monumento Natural do Estado de Santa Catarina’’ e da APA de Ilhas.
Caro Mariano, sabes que sou politicamente apartidário e assim sempre serei, porém ainda acredito nas pessoas e as colocações do Amin deixaram-me entusiasmados com a promessa de obter recursos via emendas parlamentares para o custeio dos Planos de Manejo das três Unidades de Conservação (UC). Ao final da reunião o ex-governador enfaticamente me cobrou que não esquecesse de falar com o prefeito Mariano para mandar um projeto ao seu gabinete solicitando o recurso para viabilizar as UCs de Araranguá.
Como é de vosso conhecimento a decisão do TRF4 nos surpreendeu em determinar a proibição do trânsito de veículos automotores na praia, entre o Morro dos Conventos e a Foz/Barra do Rio Araranguá. Havíamos, na época, ano de 2012, solicitado ao MPF mais rigor com os baderneiros, mas a justiça entendeu como única forma de acabar com a baderna das festas raves que estavam dominando a orla marítima com intensa poluição de lixo jogado na natureza, de som automotivo extrapolando os decibéis permitidos, de competição de carros e motos no local que não é apropriado para tais manobras perigosas, tanto que os caminhantes reclamavam do perigo, além de outras drogas pesadas em todo o trecho. Assim  decidiram não mais permitir o trânsito de veículos, com exceção dos autorizados pela FAMA.
Houveram reclamações, mas os benefícios desmontou a opinião de muita gente, pois o local ficou mais seguro e voltou a haver equilíbrio ecológico para a vida marinha local, como também para as aves migratórias. Entendemos que se faz necessário urgentemente um programa de adaptação para a mobilidade nesta área de intenso valor eco turístico, que pode e deve ser através dos planos de manejo, uma forma democrática e legítima de regulamentar o uso e ocupação das áreas, sejam do Morro dos Conventos quanto do Morro Agudo e de Ilhas.
Através de um recurso do fundo CASA conseguimos implantar um projeto de painéis ecoturísticos na Orla de Araranguá, conforme fotos em anexo. A parceria foi realizada com o Grupo de Estudos Geoecológicos da Costa de Araranguá e que se não fosse a intransigência de uma das integrantes, o Projeto de Roteiro Geoecológico poderia ter ficado bem melhor e mais atrativo.
Por último reivindicamos a convocação do ‘’Conselho das Cidades’’ baseado na Lei 10.257/01, que rege o Estatuto das Cidades, pois é inconcebível a omissão da prefeitura em implantar este instrumento legal, participativo e inovador para acompanhar o desenvolvimento do Plano Diretor de Araranguá.
E para finalizar solicitamos sua atenção quanto a implantação da escultura conforme desenho em anexo, simbolizando a conquista do contorno da rodovia BR-101 em Araranguá, a ser implantada no trevo Becker.
Atenciosamente
Tadêu Santos
Coordenador Geral

Araranguá – SC, 27/04/2017

Sócios da Natureza
Organização Não-Governamental Ambientalista
/////////////////////////////////////////