30 novembro, 2009

UM DESABAFO CLIMÁTICO

Cidadania Ambiental
Tadeu Santos ONGSN – Araranguá, 01.12.2009


‘’UM DESABAFO CLIMÁTICO!’’

Que as mudanças climáticas já estão acontecendo no Sul do país não temos dúvida (SC e RS), porém o Brasil só fala no criminoso desmatamento da Amazônia, tanto os órgãos governamentais quanto a comunidade cientifica e ambientalista, com ampla cobertura da mídia. A impressão que se tem é que só o desmatamento da Amazônia é que emite CO², ignoram outras fontes sujas como a combustão e queima de combustíveis fósseis, que além de emitir gases efeito estufa emitem também gases prejudiciais à saúde pública. Estes influenciam no desequilíbrio do clima, tanto quanto o calor emitido pelas termelétricas. Não consideram as tragédias do clima no Sul de SC que estão causando pânico na população, matando e destruindo, tanto em áreas urbanas quanto rurais, com enormes prejuízos materiais.

Estamos participando de vários seminários, encontros e reuniões sobre mudanças climáticas em todo país, patrocinado por várias ONGs. Outro dia comentei que o município de Araranguá – epicentro do furacão Catarina havia sido contemplado com três eventos climáticos de considerável magnitude num período de apenas 15 dias, como a segunda maior enchente da bacia hidrográfica do rio Araranguá, felizmente sem vítimas, uma chuva de granizo com pedras de sete cm de diâmetro e um inédito tornado na segunda quinzena de setembro, ou seja, uma semana antes do II EFAMuC. A descrição não poderia ser mais trágica, considerando o sofrimento das pessoas atingidas e os prejuízos materiais, mas um comentário inapropriado ironizou que o município era o epicentro e que então tinha que se acostumar. Numa outra ocasião comentei da menina de treze anos que havia presenciado três eventos climáticos, iniciando com o furacão quando morava em Criciúma, depois três enchentes na Barranca e por último o tornado onde está morando no bairro Alto Feliz, quando um senhor inocentemente ironizou que então é ela que atrai o problema.

OBS. Se um vento repentino ou uma nuvem escura já é motivo de pânico na vida das pessoas que moram na região, imaginem então quando acontece o fenômeno!

Não é qualquer ‘’ventinho’’ ou vendaval que vira dois caminhões numa rodovia como a BR-101 e não é qualquer ‘’ventinho’’ que provoca ondas de seis metros como acorreu no Pântano do Sul na Ilha de Florianópolis. Nenhum dos eventos do dia 19 de novembro foi previsto com a violência e gravidade que ocorreu no sul do país, entre Porto Alegre/RS e Florianópolis/SC e por fim anunciaram como vendaval, quando as características foram de furacão e ciclone extratropical. Algo está errado com a eficiência da ciência da meteorologia, eventos como o do Catarina já causaram controvérsias na época, é preciso, portanto, buscar explicações com a geofísica e a oceanografia por exemplo. Estatisticamente a tendência é intensificar os eventos climáticos, porém não estão sendo adotadas medidas preventivas e a população não está preparada para uma adequada adaptação.

Realizamos o II Encontro de Fenômenos Naturais, Adversidades e Mudanças Climáticas da Região Sul, em 07 e 08 de Outubro, em Araranguá, e uma carta/manifesto foi lançada com as principais demandas, onde consta a elaboração de estudos mais profundos como forma de esclarecer a população que quer respostas as tragédias do clima e a criação de um Observatório do Clima em Araranguá. AS POPULAÇÕES AFETADAS PELAS TRAGÉDIAS DO CLIMA CONTINUAM QUERENDO RESPOSTAS!!!





FCMCG e FAPESC

Na reunião do FCMCG dia 24 em Fpolis, o assessor técnico da presidência da FAPESC, Prof. Fernando Fernandes Aquino nos procurou pedindo para que oficializássemos um convite a Presidência solicitando a criação do GTE na região da bacia do Araranguá, da mesma forma que já foi instalada na Bacia do Itajaí. A iniciativa da FAPESC se deu em razão de nós como foristas pela FEEC fazermos um apelo ao palestrante Prof. Antônio Diomário Queirós para que o governo catarinense olhasse com mais atenção as tragédias do clima que estão causando pânico e prejuízos à população do sul de Santa Catarina, já que o mesmo havia citado apenas o apoio dado a Bacia do Itajaí. A atenção dispensada não nos chamou atenção no momento (até porque o forista Magri (Tractebel) da FIESC já havia questionado sobre as tragédias ocorridas em Araranguá), mas sim a resposta negativa do Edital da FAPESC/SDR ao nosso projeto, que propôs mais estudos sobre as causas destes fenômenos, bem como a criação de um Observatório do Clima na região. Não dá pra entender!!!



PREPARATÓRIA COP 15

Em forma de denúncia e ao mesmo tempo de apelo manifestamos nossa indignação num único pronunciamento no seminário preparatório a CPO 15, realizado no Matila Cultural no centro de São Paulo, no dia 25/11/09. O Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas (FBMC), maior estância governamental para discutir mudanças climáticas no país, subestimou os apelos das comunidades afetadas catarinenses atingidas pelas tragédias do clima não realizando um encontro em Fpolis em 2008, como também não responderam um convite para enviar um representante ao II EFAMuC, ou seja, o FBMC não quer ouvir a população pois devem se achar suficientemente entendidos de ‘’pânico e desespero’’, consequentemente sabem tratar das devidas medidas ‘’preventivas e de adaptação’’ com o mapeamento voltado para Amazônia. Apelamos também à comunidade ambientalista brasileira para que considerem as tragédias do clima em SC, onde comprovadamente as mudanças climáticas já estão acontecendo na região que mais emite CO² pela queima de combustíveis fósseis da América Latina. PORÉM NÃO ADIANTA, O FOCO É A AMAZÔNIA E PONTO FINAL!!! Agora, se o furacão Catarina e todas as tragédias do clima como enchentes, estiagens, chuvas de granizo, vendavais/temporais, ciclones extratropicais e tornados que estão acontecendo na região sul de Santa Catarina estivessem acontecendo em São Paulo, Rio ou na Amazônia a história seria diferente porque o enfoque seria outro, tanto pelo governo, ONGs e mídia. DÁ A IMPRESSÃO QUE LÁ DÁ REPERCUSSÃO NA MÍDIA MUNDIAL!!! SE DÁ REPERCUSSÃO, OS PAÍSES DO NORTE MANDAM DÓLARES!!!

50% das emissões brasileiras de gases efeito estufa estão na combustão e queima de combustíveis fósseis, entre outras várias fontes que ‘’também’’ causam mal a saúde pública e a natureza.
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A MUDANÇA NÃO DEPENDE APENAS NO CLIMA, MAS EM TODOS NÓS!

Quando houve na noite de Natal de 1995 o maior deslizamento de terra do Brasil nas encostas da Serra Geral, no Sul de Santa Catarina (www.deslizamento-timbedosul-sc.blogspot.com), a grande mídia e nem o Estado Brasileiro deu a devida atenção a tragédia que arrastou 29 pessoas das áreas rurais localizadas abaixo das encostas, sendo que grande parte dos corpos nunca foram encontrados. Agricultores sobreviventes da localidade de Figueira declararam na época que a tragédia começou depois que duas nuvens de ‘’cores diferentes’’ se chocaram caindo inteiras sobre as encostas dos Aparados da Serra Geral, atingindo as encostas de três municípios (Timbé do Sul, Jacinto Machado e Siderópolis) e destruindo tudo que tinha pela frente na bacia hidrográfica do rio Araranguá num trajeto de 40 km até o mar, entulhando a praia do Morro dos Conventos e Arroio do Silva, com troncos e toras de madeira num trecho de aproximadamente 20 km de extensão.
Diferentemente da tragédia de Angra dos Reis ou do Vale do Itajaí/SC, em 2008, na citada região atingida pelos deslizamentos não havia moradias embaixo dos morros ou em qualquer área considerada de risco, como também não havia desmatamento comprometedor nas encostas. O que intriga neste inusitado caso é a imensa quantidade de chuva num mesmo momento e numa mesma área de aproximadamente 15 km ainda preservada. Na época a gravidade do fato trouxe uma equipe de estudiosos da UFSC para avaliar durante uma semana o evento extremo que causou o gigante deslizamento, provocando prejuízos incalculáveis à agricultura e aos bens públicos dos municípios afetados, porém sem um parecer conclusivo sobre a causa da catástrofe climática.
O uso inadequado do solo tem acelerado e contribuído com os processos de deslizamentos principalmente em perímetros urbanos. A ganância infecciosa por um desenvolvimento desordenado tem causado o desequilíbrio do clima, seja pela indústria ou pela agricultura, com a ocorrência de tormentas, vendavais, enchentes, estiagens, ciclones extratropicais, tornados e furacões. Enquanto ainda muitos continuarem pensando que todos os eventos extremos são apenas fenômenos e desastres naturais e que o lucro está acima de tudo, não podemos esperar dos governantes atitudes e medidas para reduzir o impacto das tragédias, sejam elas climáticas ou não, que estatisticamente passarão a ocorrer com mais intensidade e frequência. Mais uma vez a comunicação é importante para sensibilizar os que ainda não perceberam que algo está mudando e mudando pra pior.
Baseados nas divergências entre os órgãos responsáveis pelas leituras meteorológicas, inclusive as feitas pelas redes de televisão, solicitamos ao Estado Catarinense e Brasileiro que estudos mais profundos, além da ciência da meteorologia, sejam realizados urgentemente. Estudos abrangendo a geofísica, a oceanografia, a sociologia ou qualquer outra ciência que venha esclarecer de vez a população atingida, de forma a orientar adequadamente a prevenção e adaptação às comunidades desprotegidas à força dos ventos e às que vivem em áreas de risco para enchentes e deslizamentos.
Infelizmente a comoção pública nestas tragédias é momentânea e muitos governantes tiram proveito político eleitoral, como também grande parte dos recursos não chegam ao adequado destino. Não existe uma investigação adequada quando se trata de verbas para catástrofes naturais, pois geralmente os ‘’espertos’’ que estão de olho na grana, incrivelmente apelam denunciando qualquer medida cautelar que promova seriedade na aplicação. Entidades denunciam, mas a mídia não publica ou divulga. A grande e média mídia de SC tem boicotado descaradamente denúncias e alertas quando se trata de meio ambiente. A alternativa que resta as ONGs por enquanto é a internet.
Não basta só mapear as áreas vulneráveis e as áreas de risco com o anúncio da implantação de medidas de prevenção e adaptação aos novos tempos que estão chegando, antes é preciso mudar os corações e mentes das pessoas, fazendo-as perceber que chegamos a um limite tal de exploração dos recursos naturais, no qual só deveríamos utilizá-los para atender as atuais necessidades sem, no entanto, prejudicar o direito das futuras gerações. Isto parece papo furado de ambientalista, mas é a mais perfeita avaliação do atual quadro geopolítico ambiental.
Desde o fato citado da noite de Natal de 1995, a divulgação pela mídia tem sido maior, até porque os eventos extremos têm ocorrido com mais frequência e intensidade, não apenas na região sul de SC. Se todos nós somos culpados pelo desequilíbrio ecológico, o setor das comunicações talvez seja um dos mais culpados, pois mantém contato diariamente com as pessoas de todas as faixas sociais e etárias. Nossas vidas, direta ou indiretamente, estão sujeitas a influência positiva ou negativa do que vemos, ouvimos ou lemos diariamente. A mídia ainda não percebeu o poder que têm ou sabe muito bem e oportunamente aproveita para manipular nossas vidas de acordo com seus interesses.
A mídia tem a função de informar com responsabilidade, divulgando não apenas os efeitos, mas investigando as causas para entenderem também como cidadãos. Coberturas oportunistas desviam atenção de debates mais sérios que poderiam levar os segmentos organizados da sociedade civil cobrar medidas eficazes dos governantes. Exploração do sentimento dos sobreviventes ou parentes, com entrevistas oportunistas poderia dar lugar a informações esclarecedoras sobre as causas e medidas preventivas. A sacada mais produtiva seria saber transmitir as catástrofes de tal forma que convencesse a opinião pública a não cometer mais erros, inclusive aos políticos / governantes. A mídia teria esta capacidade transformadora/revolucionária de informar educando a população, porém seus patrocinadores privados e governamentais não permitirão com receio que o lucro venha ser reduzido. Como então lidar com este conflito se a possível solução está na redução da degradação ambiental, caso específico da COP 15. Por isso insistimos que a mudança não está apenas no clima, mas em todos nós!

Tadeu Santos - Coordenador dos Sócios da Natureza – ONG Conselheira do CONAMA e FNMA- Biênio 2009/2011 pela Região Sul do Brasil. Araranguá - SC, 10/01/2010. Tel 48/35221818 – 48/99850053