04 outubro, 2024

EVENTOS CLIMÁTICOS REGIÃO EXTREMO SUL DE SANTA CATARINA

 SOCIOAMBIENTALISMO

Este espaço foi criado com objetivo de provocar o debate, a aproximação, a crítica, a troca de informações e idéias, como também a pesquisa de questões socioambientais da região sul de Santa Catarina. Considerada uma das 14 áreas mais críticas ambientalmente do país em consequência da poluição gerada pela atividade carbonífera, é também castigada pela violência das águas e dos ventos, com enchentes que destroem e matam, além de ser epicentro do furacão Catarina - o primeiro do Atlântico Sul.

27 março, 2014
DEZ (10) ANOS DO FURACÃO CATARINA e o meu DEPOIMENTO COMO ATINGIDO NA MADRUGADA DO DIA 28/03/2004...
FURACÃO CATARINA, 10 ANOS DEPOIS

A região localizada no sul de Santa Catarina e litoral norte do Rio Grande do Sul, atingida pelo furacão Catarina, antes de 2004 sofria apenas com a violência das águas, pois a ocorrência de ventos não era significativa, porém com o advento do furacão Catarina a região passou a sofrer também com a violência dos ventos!
Abaixo consta meu depoimento sobre a noite de pânico que passei na Rodovia BR-101 próximo a Reserva Ecológica de Maracajá, quando fui impedido de chegar em casa como diversas outras pessoas que trafegavam na rodovia em conseqüência das centenas de árvores caídas na pista. Foi a mais assustadora experiência que passei em minha vida!

Em 2005 com apoio de várias entidades e órgãos governamentais realizamos o Iº ENCONTRO SOBRE FENÔMENOS NATURAIS, ADVERSIDADES E MUDANÇAS CLIMÁTICAS DA REGIÃO SUL DO BRASIL, com 700 participantes, sendo a grande maioria educadores. Ressaltando que assinaram o livro de presença pessoas de 12 estados brasileiros e de dois países, Argentina e Canadá.

Em 2009 realizamos a segunda edição do EFAMuC com a participação de aproximadamente 1000 mil pessoas nos dois dias de evento. Na ocasião a representante da Marinha do RJ informou que uma bóia sensor havia sido instalada na costa marítima de Laguna, atendendo assim uma reivindicação resultante do I EFAMuC enviada ao Ministério da Defesa.

FOTO ULYSSES JOB - CRICIÚMA

Vale enfatizar que 15 dias antes do II EFAMuC, em 2009, o município de Araranguá obteve um registro histórico e, talvez inédito no país, com a ocorrência de um Ciclone Extra-Tropical, a segunda maior enchente no município e uma chuva de granizo gigante, todos causando pânico e muitos transtornos, além de enormes prejuízos tanto na área urbana quanto rural.

FOTO ULYSSES JOB - CRICIÚMA

Estamos participando de reuniões com várias entidades e órgãos governamentais para a realização do III EFAMuC agendado para os dias 06 e 07 de novembro de 2014, na qual se debaterão as políticas públicas de prevenção e adaptação ao desequilíbrio do clima e juntamente com as comunidades afetadas e vulneráveis a busca com especialistas das respostas e soluções para o conflito climático...

DEPOIMENTO
Furacão Catarina:

Pânico, medo e impotência na BR-101 / SC.

DEPOIMENTO REALIZADO NO FÓRUM SOCIAL MUNDIAL FSM DE 2005 EM PORTO ALEGRE/RS.

Pânico, medo e impotência são as palavras que mais se aproximam na tentativa de expressar os momentos de quem estava no trecho entre Araranguá e Maracajá, da rodovia BR-101, entre às 00:45 h e 02:00 horas da madrugada de sábado pra domingo. São nestes momentos que se percebe que nada pode ser feito contra a força da natureza em desequilíbrio. Estas situações de medo e desespero seriam propícias para os degradadores do meio ambiente presenciarem, da mesma forma como foi mostrada no filme Energia Pura, quando o caçador em contato com o animal ferido, sente também as mesmas dores e a angústia da morte do animal.

Ao voltar da festa de formatura do meu cunhado em Criciúma, apesar dos avisos amplamente divulgados, fui surpreendido com a tempestade ao entrar na rodovia federal, quando já havia uma enorme quantidade de folhas e galhos de árvores na pista. Ao passar em frente ao parque do Maracajá, já se percebia árvores caídas na pista, mas na ânsia de chegar em casa, continuei em frente até passar pela curva do ‘’S’’, quando repentinamente uma enorme árvore caiu na pista, não dando tempo de desviá-la, conseqüentemente, entrei ou bati na mesma. Rapidamente engatei ré, não sei como consegui tirar o carro, apesar de sair sem os limpadores do pára-brisa e da sinaleira dianteira e o espelho do motorista pendurado, tudo isto ao altíssimo som do vento, da intensa chuva, num cenário de escuridão total (confesso que ao vivo, é muito pior que nos filmes). Mesmo assim continuei em direção a Araranguá, quando me deparei com uma carreta atravessada na pista, que estava tentando desviar de uma enorme árvore. Em determinado momento o motorista saiu da carreta e alguns minutos depois, retornou gritando que era para eu voltar, porque não havia mais condições de continuar, que tentaria manobrar para voltar. Ao voltar, como não havia mais limpador do pára-brisa, tive que dirigir com a cabeça para fora do carro, pegando muito vento e chuva, além de desviar dos empecilhos na pista.

Procurei não estacionar nos postos de combustíveis por causa do perigo que proporcionam nestas situações, mas após algum tempo acabou a bateria do celular, então procurei um posto pra telefonar pra família e estacionei no posto de gasolina Mazzuco, porque era o único com geração própria de energia. Por volta das 02:45 horas, apareceu o Pelotão da Polícia Ambiental procurando óleo para a abastecer a moto serra, com a intenção de tentar a desobstrução da pista. Quando tudo estava aparentemente sob controle, o vento mudou de direção, de sul passou para nordeste e, foi quando o telhado do posto começou a desabar, mais uma vez tive que procurar outro local seguro.

Só consegui chegar em casa, às 11:00 horas da manhã de domingo, felizmente, só com os estragos no carro, mas os estragos que me preocupam são os sofridos pelas famílias desabrigadas, principalmente, as excluídas socioambientalmente.

Registro a bravura dos Policiais da Ambiental que corajosamente enfrentaram a tempestade. Que entre as 00:45 h e 09:00 horas os caminhoneiros reclamavam da ausência da Polícia Rodoviária – O engarrafamento ultrapassou os 30 KM de extensão. Acho que a Defesa Civil precisa repensar suas estratégias de prevenção e apoio às comunidades afetadas por sinistros como este, que infelizmente, passarão a ocorrer com mais intensidade por causa do desequilíbrio climatológico provocado pela poluição atmosférica, resultando no temido efeito estufa.

Tadeu Santos
Ambientalista
Araranguá/SC, 28/03/04

Tadêu Santos às quinta-feira, março 27, 2014
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